Pensamos demasiadamente, sentimos muito pouco. Necessitamos mais de humildade que de máquinas. Mais de bondade e ternura que de inteligência. Sem isso, a vida se tornará violenta e tudo se perderá.”
Charles Chaplin
Poema para não morrer
Márcia Mendes*
Chove lá fora.
Chove dentro de mim.
A dor do outro invade
minha casa, arrancando as pétalas de minhas flores.
Do lado de cá
olho vidas desabando,
virando lixo,
virando lama.
Um cheiro frio e pesado
Corre pela casa silenciosa e me deixa sufocada, impotente.
As cenas que circulam na tela
são retratos do descaso social,
da desumanização daqueles que estão no poder.
Rios de lágrimas atravessam corações partidos,
marcando a despedida da alegria.
Hoje queria a fantasia de Poliana*
Para colorir o coração de quem tudo perdeu.
Hoje queria as asas de Ícaro*
Para acordar e levar para a “terra do nunca” *os “severinos” e “severinas* que estão dormindo no lixo, na lama.
Hoje, só hoje, queria fazer nascer da lama - uma flor.
Uma flor digna, forte, livre.
Uma flor que alcançasse a alma,
a consciência.
Uma flor que tirasse o bicho de concha
do individualismo, da indiferença,
do esclerosamento.
Uma flor que, embora, inventada
fosse capaz de cobrir de amor o espírito daqueles que partiram.
E, por certo, aliviar as tensões,
alimentando o coração de quem
tem de continuar, pois é preciso, sim, sair dos escombros.
_________________
* Personagem do romance Pollyanna, menina que inventou o “jogo do contente”.escrito em 1913.
* Ícaro realizou o sonho de poder voar bem alto.
*Lugar inventado pelo personagem Peter Pan para estender por períodos mais longos a sua infância.
*Nomes dos nordestinos presentes no poema, de João Cabral de Melo Neto – Morte e vida Severina.
domingo, 18 de abril de 2010
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